Formatura de mestres e campeonato de Capoeira agitam o Amazonas neste mês de novembro
Silvio Rodrigues
31/10/2021 17h49 - Atualizado em 31/10/2021 às 17h49
Mestra Julia Vargas e Mestre Jorge Paulino – Escola Bomani
A Escola de Capoeira BOMANI, dirigida pelo Mestre Ronaldo Vargas e coordenada pelo Mestre Jorge Paulino e Contramestra Julia Vargas, estará promovendo entre os dias 5 e 7 de novembro, dois grandes eventos que estão entrando oficialmente para o calendário de eventos esportivos e culturais do Estado do Amazonas, contando com participação de renomados mestres do Amazonas e do Brasil.
O primeiro e mais importante, com repercussão nacional e internacional no mundo da Capoeira, é a formatura ao grau de Mestre da contramestra Julia Vargas, que depois de 30 anos de atividades continuas na prática da Capoeira junto a seu pai, Mestre Ronaldo Vargas, chega o momento do reconhecimento de seu valor e do trabalho exemplar desenvolvido ao logo destes anos. No mesmo evento, também estará subindo ao grau de Mestre, o Contramestre Dedé, também discípulo de Mestre Ronaldo Vargas.
O evento ocorrerá em dois momentos no Teatro da Instalação, Centro de Manaus, as 18:00h de sexta, dia 5 com a cerimônia de diplomação e reconhecimento oficial, e no sábado dia 6, as 18:00h com a entrega da corda de Mestre aos dois formandos.
Julia Vargas
Julia começou seus treinos na academia de seu pai aos dois anos de idade; sempre se fazendo presente no universo da capoeira e das artes plásticas e teatrais. Também acompanhando seu pai nas confecções d instrumentos de percussão, artesanato diverso e outras artes onde aprendia e desenvolvia seu talento artístico e cultural.
Julia Vargas, destemida e decidida, aos 19 anos, com as bênçãos de seus pais, depois de conviver e vivenciar o universos da capoeira do Amazonas, resolve conhecer o Brasil da Capoeira e a Capoeira do Brasil, viajando por vários Estados e levando experiências da selva para os quatro cantos do Brasil, convivendo, aprendendo e ensinando por onde passou e com quem teve a oportunidade de viver a experiência de ser cidadã do mundo da capoeira.
Julia também viajou para outros países como Alemanha, França Suíça e México, onde pode ministrar aulas de capoeira e dança, além de seminários e palestras sobre a capoeira e a cultura do Amazonas.
O Mestre Ronaldo Vargas, envolvido com os movimentos culturais, majoritariamente herdados e praticados pela comunidade negra do Amazonas, vem praticando a capoeira há quase 50 anos e teve sua iniciação na comunidade Seringal Mirim, bairro de São Geraldo, mais precisamente com a turma do tão famoso Boi-Bumbá Mina de Ouro e está em atividade até hoje, defendendo a arte cultura e educação através da capoeira.
Mestre Ronaldo fez algumas considerações a respeito da graduação que ora passa à sua mais antiga discípula, em resposta e observância ao que é ser Mestre e o que alguns dizem sem saber.
Portal AMA – Quem é autoridade na Capoeira?
Mestre Ronaldo - A questão da legitimidade de autoridade na Capoeira passa por diversos aspectos que não podem ser relegados ou tratados como de menor importância. Primeiramente, é fundamental destacar que a Capoeira é uma cultura do povo, iniciada ou criada ou inventada pelo povo escravizado no Brasil, povo que, enquanto etnia traficada como mercadoria, insurge-se e utiliza-se de sua riqueza cultural para elaborar essa luta de defesa e resistência contra a violência e os maus tratos infringidos pelos senhores escravagistas.
Portal AMA – O que é fundamento?
Mestre Ronaldo - Não podemos negar que muito do que se convenciona tradição ou fundamento da Capoeira não se sustenta como tal, caracterizando-se como tradições e fundamentos criados por mestres e seguidos por seus discípulos em suas respectivas escolas e grupos.
A tradição de uma escola de Capoeira é respeitado e compartilhado entre todos, mesmo havendo rixas e incompatibilidades outras, mas a história da escola, a vivência de seu mestre e discípulos/as no universo dessa arte, sua inserção nesse universo, lhes concedem legitimidade e autoridade, ou seja, a pessoa passa a ser reconhecida enquanto mestre e a ter sua própria escola e tradições particulares respeitadas.
A partir disso, devemos ficar atentos a outro aspecto da legitimidade destacada acima, por exemplo, o título de mestre obtido por algum capoeirista de determinada escola ou grupo, concedido por seu mestre. Se atentarmos com maior apuro identificaremos que nenhum outro título ou graduação, mesmo de contramestre ou outro grau equivalente nas hierarquias dos grupos, causa tanta atenção quanto o título de mestre.
Portal AMA – Quem dá legitimidade do mestre na Capoeira?
Mestre Ronaldo – A questão da legitimidade do mestre de Capoeira. A reflexão que trago à tona trata de um aspecto que sempre nos incomodou e segue incomodando a muitas pessoas inseridas nessa prática, e diz respeito ao entendimento de qual seria, afinal, a extensão e o alcance da autoridade do/a mestre/a? Até onde suas determinações são respeitadas? Por que, mesmo se tornando mestre/a, este/a, em não raros exemplos, ainda fica submetido/a, a jugos e decisões alheias, inclusive, sem capacidade de fazer valer a própria autoridade livre dessas amarras? Sendo mestre/a, pode-se pensar em criar sua própria escola e formar e comandar seus/as discípulos/as?
Portal AMA – Existe justo reconhecimento aos que chegam hoje ao grau de Mestre?
Mestre Ronaldo - Pois bem, a legitimidade do mestre acaba passando por um processo de desqualificação, fruto de intenções, controle e poderio absoluto sobre o outro, o que se identifica, principalmente, nas falas e práticas de mestres tidos e reconhecidos como sumidades, excelências, os conhecidos grandes mestres da Capoeira, aqueles que muitos intitulam de os donos, no caso “pseudo-dono”, e que gostam de afirmar que um verdadeiro mestre é formado na vivência e quem lhe atribui reconhecimento, legitimidade e autoridade é a comunidade.
Não podemos nos esquecer, claro, que muitas das pessoas que defendem esse argumento, o fazem somente se referindo aos outros mestres, formados pelas outras escolas, jamais àqueles que eles próprios formam, visto que, a esses últimos, por serem seus discípulos, basta o reconhecimento dado por ele, cabendo aos demais, inclusive à comunidade apregoada, a obrigatoriedade de reconhecer e atestar a excelência de sua formação, muito embora, alguns dos mestres que formam somente sejam conhecidos no contexto de seus grupos; treinam com seus pares, frequentam eventos de seu mestre e de seus colegas de grupo, somente vão em rodas promovidas por componentes de sua escola, ou seja, é um excelente capoeirista “do seu grupo”, nem sequer interage com outros estilos de jogo, com outras escolas e capoeiristas cuja forma de jogar se diferencia da sua.
Independente de quem vá elogiar ou criticar a formatura dos meus discípulos, Julia e Dedé, quero dizer que o nosso trabalho fala por si e o que a Julia fez e faz pela arte da Capoeira, assim também o Dedé, valem o grau que hoje alcançam. No mais, só digo uma coisa: RESPEITE QUEM PÔDE CHEGAR AONDE A GENTE CHEGOU.
3° Campeonato Aquático de Capoeira
Fechando a semana alusiva à formatura da mestre Julia e Mestre Dedé, a Escola Bomani também estará realizando no sábado, dia 6, a partir da 8:00, a terceira edição do Campeonato Aquático de Capoeira, com premiação variada e dividido em três categorias: Iniciantes até 15 anos, Graduado até Formado, Professor, Contramestre e Mestrando e categoria de mestres.
Premiação
Iniciantes até 15 anos (troféu 1°Lugar e Medalhas para o 2° e 3° colocado)
Graduado até Formado (Cinturão Para o 1°Lugar e Medalhas Para o 2° e 3° colocado)
Professor, Contramestre e Mestrando (Cinturão para o 1°Lugar + 100,00 (Cem Reais) e Medalhas Para o 2° e 3° colocado)
Mestres (Cinturão para o 1° Lugar + 100,00 (Cem Reais) e Medalhas Para o 2° e 3° colocado)
A Equipe que mais inscrever atletas para participar vai receber o troféu pela equipe e 100,00 (Cem Reais). Cada equipe tem que inscrever no mínimo 5 atletas para concorrer.
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